O que eu penso e o que eu sinto

O que eu penso e o que eu sinto

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

E mais não digo pois demais já disse.


Se há uma coisa que eu aprendi ao viver e trabalhar aqui na Alemanha como educadora de infância é a ser mais descontraída. Em tudo. Em relação à minha vida pessoal também, mas principalmente em relação à educação das crianças. Em comparação com os portugueses, os alemães são muito mais descontraídos (ao contrário do que eu pensava). Antes de vir esperava uma educação muito mais rígida, dura, autoritária e com pouco espaço para a criatividade. Quão enganada eu estava!!!
Aqui vamos com as crianças para o parque infantil independentemente de chover, fazer sol, neve, calor, frio, etc. Claro que temos o cuidado de vestir as crianças de acordo com o que o tempo exige e aplicamos proteção solar ou limitamos a quantidade de tempo no exterior mas não deixamos de sair e apanhar ar puro! No inverno, as crianças vestem fatos completos impermeáveis e divertem-se a saltar nas poças, a brincar na lama e a rebolar sobre pequenos montes. Quando o sol está muito forte colocamos protetor solar, chapéus e equipamos o parque com algumas sombras, mas ninguém fica dentro da escola fechado.
Os bebés que ainda não gatinham são incentivados a fazê-lo e mal aprendem deixam de ser transportados nos braços da educadora. Se já sabem gatinhar é assim o seu meio de locomoção seja para a casa-de-banho ou para o parque infantil. Da mesma forma que aqueles que já andam sozinhos são apenas orientados na direção que devem ir. No parque infantil não pensem que os bebés ficam numa mantinha a ver os mais crescidos brincarem... Gatinham por todo o parque, sujam-se e mexem em todos os baldes e pás que encontram pelo caminho...
Para todos os sítios que os pais têm de ir, as crianças acompanham-nos. Há imensas famílias que utilizam os transportes públicos e quase todos os eventos estão preparados com facilidades para crianças e bebés. Se há uma festa, os bebés vão atrás...
Outro aspeto importante é que não é só nas casas de banho das mulheres que existe fraldário. Nunca tinha reparado neste aspeto mas é importantíssimo! Um pai não pode trocar a fralda ao seu bebé num espaço público se o fraldário se encontrar apenas na casa de banho feminina! Aqui ambas têm esse apoio.
Muitas famílias contratam pontualmente babysitters ao fim de semana. Aqui é visível a importância dada à vida do casal. Não vivem só em função do filho. Procuram ter uma vida social além da familiar e as crianças percebem isso. É-lhes explicado de forma muito clara que os pais vão à festa de aniversário de uma amigo, tal como acontece com as festas de aniversário dos seus amiguinhos. Não podem faltar porque o seu amigo iria ficar triste. Explicam às crianças as situações de forma muito simples e elas percebem e não sentem que estão a ser enganadas ou rejeitadas pelos pais.
Se as crianças saltarem uma refeição, não faz mal! Não é o fim do mundo. Como portuguesa, encontrei aqui um choque culural pois dou imensa importância à alimentação e à qualidade da alimentação das crianças. As famílias que tenho encontrado também dão importância à alimentação mas não numa questão de vida ou de morte. Se a criança não comeu por alguma razão (até porque não quer...) comerá quando tiver fome. Por outro lado, restringem bastante o consumo de açúcar e substituem-no por fruta (fresca ou seca).
É óbvio que as afirmações que aqui faço valem o que valem. São apenas o meu ponto de vista de acordo com as experiências que tive até agora. Nem todas as famílias serão assim. O que retiro de importante para mim, profissional e pessoalmente, é que não devemos educar as nossas crianças dentro de uma bolha pois há sempre um dia em que a bolha rebenta e nesse dia eles não vão estar preparados para o que vão encontrar. O ideal é deixá-los ir onde a curiosidade deles os quer levar e a nós adultos cabe-nos supervisionar e garantir que nenhum mal maior aconteça. Se a criança cair e fizer um arranhão é normal. O que não é normal é não deixar as crianças serem crianças só para não sofrerem um arranhão. Outro aspeto importante é não nos esquecermos das nossas próprias necessidades por causa das nossas crianças. Deixar por exemplo de ir jantar fora a dois ou de ir ao cabeleireiro só para poder comprar mais um brinquedo é, quanto a mim, uma decisão totalmente errada. Se não estamos felizes e bem connosco próprios as crianças são as primerias a senti-lo. E toda a gente sabe que brinquedos há muitos... A qualidade do tempo que os pais passam com as crianças é que é verdadeiramente essencial.
E mais não digo pois demais já disse.

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